Por que você não precisa “produzir” o tempo todo?
Sul Fluminense – A gente acorda e já abre o olho pensando na lista de tarefas. É trabalho, estudo, post, treino, e aquele “projetinho paralelo” que parece que todo mundo tem, menos você. E quando, por um minuto, surge um tempo livre… a culpa aparece. “Devia estar fazendo alguma coisa.”
A verdade é que a pressão por produtividade o tempo todo virou o novo padrão, mas isso não quer dizer que seja saudável. Aliás, sabe o que é revolucionário hoje em dia? Descansar.
A romantização do cansaço (e o mito da supermulher)
Vivemos numa era em que se exaltar pelo cansaço virou um troféu. “Dormir é para os fracos.” “Trabalhe enquanto eles dormem.” “Você tem as mesmas 24h que a Beyoncé.” Ok, mas a Beyoncé tem uma equipe com 100 pessoas. E você tem… um café gelado e o celular no modo avião pra conseguir respirar cinco minutos.
A real é que esse discurso nos esgota. Nos faz acreditar que descansar é fracassar. Que parar é se sabotar. Mas, amiga, spoiler: você não é uma máquina. E nem deveria querer ser. Convidamos a psicologa Kamila Ferreira para falar um pouco sobre esse assunto.
Por que sentimos tanta culpa ao descansar, mesmo sabendo que estamos esgotadas?
Fomos ensinadas a medir nosso valor pelo quanto produzimos. Desde cedo, aprendemos que ser útil, eficiente e disponível é essencial e, com isso, passamos a encarar o descanso como erro, fraqueza ou perda de tempo.
Na clínica, vejo muitas mulheres exaustas que ainda se cobram por não “dar conta”. Isso se conecta com a ideia da sociedade do desempenho, como define Byung-Chul Han: vivemos como projetos inacabados, sempre buscando melhorar algo, um curso, um corpo, uma meta.
Assim, descansar deixa de ser uma necessidade e vira um “luxo” que gera culpa, como se pausar fosse trair um sistema que nos ensinou a estar sempre produzindo. Nos conta a psicóloga.
O descanso também é parte do processo
Descansar não é o oposto de produzir. Descansar é parte do caminho. É no banho longo, no filme repetido, no cochilo à tarde, que às vezes vem a ideia boa. O insight que destrava aquele projeto parado. A coragem que você não encontrava. O riso que você precisava.
Seu corpo não é uma agenda. Sua mente não é um drive. E a sua alma, definitivamente, não deveria ser comprimida entre prazos e planilhas.
E se o seu valor não estivesse em tudo que você faz?
Já parou pra pensar nisso? A gente cresceu ouvindo “você precisa se esforçar mais”, “você pode ser tudo”, “você consegue se tentar de novo”. Claro que podemos. Mas será que sempre precisamos?
Você é incrível — mesmo nos dias em que só conseguiu levantar, comer algo decente e ver uma série boba. Você não precisa performar excelência o tempo todo pra ser valiosa.
Como aprender a respeitar nossos próprios limites e entender o descanso como parte da nossa saúde mental?
A primeira coisa é entender que descansar não é o contrário de produzir.
Descansar também é produzir saúde, clareza, presença, criatividade e lucidez emocional. É na pausa que o corpo se reorganiza, a mente desacelera e a alma respira.
Respeitar os limites é escutar o corpo e as emoções, reconhecer o cansaço não como falha, mas como sinal de humanidade. Nossos ciclos têm movimentos e pausas, e ambos importam.
O descanso é parte da saúde mental e essencial para uma produtividade sustentável. Quando ignoramos as pausas, o corpo cobra: o esforço contínuo pode levar ao burnout, tornando o descanso obrigatório e tardio.
Pausar antes de quebrar é cuidado.
Quem descansa bem, também produz melhor: com mais clareza, energia e equilíbrio. A culpa pode surgir, mas com autoconhecimento aprendemos que nos respeitar é também uma forma de responsabilidade.
Descansar não nos afasta da vida, permite vivê-la com mais leveza, bem-estar e por mais tempo. Afima Kamila
Descanso é autocuidado. É resistência. É coragem.
Você não vai “ficar pra trás” se desligar um pouco. Você vai ficar inteira. Vai se reconectar. Vai voltar com mais presença, com mais energia, com mais clareza. Às vezes, o melhor passo pra frente é uma pausa estratégica.
E que fique claro: descansar não precisa ser “produtivo”. Não precisa virar rotina fitness, meditação obrigatória, ou banho de sol gravado pro Instagram. Pode ser só… nada. Um nada gostoso. Um tédio necessário. Um silêncio que cura.
No fim das contas…
Seu valor não está no quanto você produz.
Está em quem você é.
E quem você é, merece descanso.
KAMILA FERREIRA
@kamilaferreirae
O post Por que você não precisa “produzir” o tempo todo? apareceu primeiro em Diário do Vale.
Agatha Amorim