Mudança na gasolina acelera economia, mas afeta veículos, afirmam especialistas

Veículos de motores antigos, com tolerância para apenas um tipo de combustível, devem ser prejudicados (Foto: Reprodução)
Volta Redonda – A nova composição da gasolina e do diesel entrou em vigor a partir de sexta-feira (1º) e deve atingir 60% dos motoristas brasileiros, segundo pesquisa realizada para a Presidência da República sobre qual combustível os condutores utilizam, divulgada em dezembro de 2024. A mistura de etanol na gasolina, antes de 27,5%, agora será de 30%, enquanto o teor de biodiesel no diesel sobe de 14% para 15%.
A medida, aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) no dia 25 de junho, é uma resposta do governo à instabilidade dos mercados internacionais de petróleo, além de impulsionar o setor sustentável de biocombustíveis e marcar uma nova etapa na estratégia nacional de transição energética para redução das emissões de carbono. A decisão foi tomada durante reuniões no Ministério de Minas e Energia (MME), lideradas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e busca diminuir a dependência nacional de combustíveis fósseis, evitar a importação de cerca de 760 milhões de litros de gasolina por ano, além de gerar a ampliação do uso de etanol e biodiesel para gerar benefícios diretos à economia.
“Elevar a mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel é uma forma de reduzir a nossa dependência de combustível importado ao mesmo tempo que aumenta a demanda em toda a cadeia produtiva ligada ao etanol e ao biodiesel, do produtor de soja e cana de açúcar até a indústria de biocombustíveis. Isso tem potencial de gerar empregos e gerar renda no campo e na indústria”, destaca Bruno Visconti, economista e professor do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA).
O potencial de aquecer a economia está diretamente ligado ao agronegócio. As plantações de cana-de-açúcar e milho devem movimentar cada vez mais o setor agropecuário, justamente por ambas as commodities serem responsáveis por 100% da produção dos 37,5 bilhões de litros etanol na safra 2024/25 do Brasil, de acordo com dados levantados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A soja, responsável por 69% da produção de biodiesel em 2023, segundo números divulgados pelo Governo, também se consolida ainda mais no setor de energia.
“Elevar a mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel é uma forma de reduzir a nossa dependência de combustível importado, ao mesmo tempo que aumenta a demanda em toda a cadeia produtiva ligada ao etanol e ao biodiesel”, completa Bruno.
Apesar do lado econômico ser um dos grandes vencedores, é preciso olhar diretamente para os motoristas, parcela da população atingida pela mudança da composição da gasolina e diesel, sobretudo quanto ao funcionamento do carro. A adição de mais etanol à gasolina não atrapalha os veículos com motores flex, aqueles com facilidade para aceitarem tanto gasolina, como o etanol.
Esse aumento, inclusive, gera uma melhoria de funcionamento, por proporcionar uma melhor octanagem da gasolina, medida de resistência realizada pelo motor a um combustível. Quanto maior for essa ação, melhor para o carro, que funciona com mais eficiência e sofre menos danos estruturais, além de reduzir a poluição gerada pelo uso do automóvel.
“O benefício maior é do ponto de vista ambiental. A estimativa é que a redução de gases responsáveis pelo efeito estufa sejam reduzidos em até 1,7 milhão de tonelada por ano. Um deles é o gás carbônico (CO2), emitido no processo de combustão, tanto do etanol quanto gasolina. A quantidade de CO2 emitido é relativo à quantidade de átomos de carbonos contidos nesses combustíveis. Nesse caso, uma molécula etanol possui 2 átomos de carbono, portanto, cada molécula do etanol emite 2 moléculas de CO2, enquanto a gasolina possui 8 átomos de carbono, e emite 8 moléculas de CO2. A vantagem do biodiesel é a redução de emissão de gases poluentes, pois o diesel proveniente do petróleo emite outro gás além do CO2, o dióxido de enxofre SO2, que contribui para efeito estufa e chuva ácida”, afirmou Natália Lopes, doutora em Química e professora universitária na Estácio de Sá.
Por outro lado, ainda de acordo com Natália, os veículos de motores antigos, com tolerância para apenas um tipo de combustível, devem ser prejudicados. “Os carros mais antigos, com motores somente para uso de gasolina, podem apresentar dificuldade de partida a frio e redução de potência”, cravou.
Além disso, ela também apontou as desvantagens da adição de biodiesel. Segundo a especialista em química, esse acréscimo sustentável ao diesel afeta o tempo de vida útil do motor.
“Uma desvantagem do biodiesel é que ele é um combustível mais corrosivo por ter maior acidez, com maior susceptibilidade de degradação química. Devido a isto, agride mais os metais dos motores e componentes do sistema de alimentação de um veículo, além de ter uma menor validade se for armazenado por um longo tempo, pela criação de borra no fundo dos depósitos e tanques de combustível. A deposição de borra no fundo dos tanques, representa um produto sólido, que pode ser deslocar e entupir a entrada de combustível no motor. A corrosão de metais que são peças do motor vai gerar um dano que o custo é elevado. Muitas vezes essas peças são insubstituíveis”, afirma Natália.
Essas consequências atingem diretamente o bolso dos motoristas que utilizam o diesel como combustível, pois corrobora, por exemplo, em uma frequência maior de troca de peças e manutenção veicular. Entretanto, pode ser o preço a se pagar, momentaneamente, por políticas nacionais sustentáveis, tanto em defesa do meio ambiente como do estímulo ao comércio e produção para consumo interno.
“Penso que essa decisão do governo não tem nada a ser contestado, tendo em vista a necessidade urgente de avançarmos nas questões de proteção do meio ambiente”, finaliza Natália.
“A nova composição da gasolina e diesel tem potencial de também reduzir os preços dos combustíveis. Todavia, seu custo nos postos de gasolina depende de outros fatores, por isso o impacto ao consumidor final pode ser incerto, a depender de repasses ao longo da cadeia. Agora, caso se concretize, a inflação cai e impacta positivamente o poder de compra da população”, conclui Bruno.
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arthur
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