A maternidade e a adoção
Sul Fluminense – Meu nome é Patrícia Augusta da Silva Brandão, sou professora, esposa do Dalton e mãe de três filhos que nasceram para mim através da adoção. Mas nem sempre foi assim.
Durante muitos anos, a maternidade foi apenas um sonho distante. Como tantas mulheres, me casei com o desejo de formar uma família, mas precisei enfrentar um grande desafio até ver esse propósito se realizar.
Acredito que minha história com a adoção começou ainda na infância, nas brincadeiras com bonecas, quando criava famílias formadas de jeitos diferentes. Sem perceber, meu coração já acolhia esse amor. Hoje entendo que Deus plantou essa semente cedo, e ela floresceu no tempo certo.
Um amor além do sangue
A adoção é uma escolha profundamente marcada pelo amor, um amor que vai além dos laços biológicos e que amplia o significado de ser família. É um processo que transforma vidas, que desafia conceitos e que ensina, dia após dia, que o vínculo afetivo é tão poderoso quanto o de sangue.
A experiência me ensinou que a maternidade, especialmente no contexto da adoção, é um exercício contínuo de acolhimento e ressignificação. É entender que cada gesto de cuidado é uma oportunidade de reconstrução. E que ser mãe, nesse cenário, é também aprender a esperar, a confiar, a doar-se sem garantias.
Neste artigo, convido você a refletir sobre os diferentes caminhos que levam à maternidade e sobre como a adoção, muitas vezes envolta em tabus e preconceitos, pode ser uma das expressões mais belas e potentes do amor humano.
A gestação da alma
Na “gestação da adoção”, o pré-natal é diferente. Não há ultrassons ou consultas com o obstetra. Em vez disso, visitamos a Vara da Infância, passamos por entrevistas, preenchimentos de formulários, cursos preparatórios e avaliações sociais.
Cada etapa carrega consigo a expectativa do encontro, a ansiedade pelo “positivo” que virá em forma de ligação, carta ou sentença. Enquanto uma mãe gestante acompanha o crescimento do bebê em seu ventre, a mãe por adoção acompanha o amadurecimento do desejo de ser mãe dentro do coração.
Prepara a casa, o emocional, a família. Lê sobre traumas, vínculos, sobre como acolher uma criança que já viveu histórias antes de chegar. É uma gestação invisível aos olhos, mas intensamente sentida na alma.
Essa preparação não é menos intensa ou significativa, ela apenas tem outro ritmo, outras dores e outras formas de nascer. E, quando finalmente acontece o encontro, não há como descrever a força desse momento. É como se o tempo parasse para acolher uma nova história sendo escrita ali, diante dos nossos olhos e corações.
Adoção não é caridade
Neste contexto é importante desconstruir esse conceito de caridade em relação à adoção e reconhecer que é um caminho legítimo de parentalidade, tão significativo e válido quanto a parentalidade biológica.
A ideia de “pegar um filho para criar” reduz todo o processo complexo e emocional da adoção a um ato de benevolência, quando na verdade é muito mais profundo e significativo para todas as partes envolvidas.
Adotar uma criança não é simplesmente oferecer ajuda a alguém necessitado, mas sim construir uma família, estabelecer laços afetivos e assumir a responsabilidade de criar e educar um ser humano com amor, respeito e dedicação.
É uma troca mútua de amor, cuidado e pertencimento, onde tanto os pais quanto as crianças encontram um novo significado para suas vidas.
Amar é permanecer
Amar alguém que chega ferido não é um conto de fadas. Crianças adotadas muitas vezes carregam traumas profundos, e o amor dos pais, por mais verdadeiro que seja, nem sempre rompe todas as barreiras de imediato. É na persistência diária, mesmo diante de silêncios e recusas, que o amor verdadeiro se revela.
Na adoção, amar é permanecer. É um amor paciente, que entende que curar leva tempo, e que escolhe continuar, mesmo quando o sentir vacila.
A adoção, sob uma perspectiva espiritual, reflete o amor incondicional de Deus por nós. Não é caridade, mas um ato de fé, de entrega e reconstrução. Um compromisso de amar, sustentar e transformar vidas com coragem e presença.
Uma missão de vida
Dar visibilidade à adoção e promover reflexões sobre esse caminho se tornou parte da minha missão de vida.
Escrevi o livro “Adoção: três corações e uma família” para compartilhar minha história e acolher outras famílias. Também uso as redes sociais como espaço de diálogo, informação e apoio para quem deseja adotar ou já vive essa realidade.
Atualmente, finalizo um novo livro infantil “A caixa amarela de Mikaela Tagarela”, para ajudar crianças a acolherem suas próprias histórias com amor e dignidade.
Acredito que contar a verdade com afeto cura, e que a adoção, quando vivida com coragem e entrega, é um encontro transformador.
Patrícia Brandão
Mãe de três filhos pela via da adoção, professora, mestre em novas tecnologias digitais na educação, palestrante, autora do livro: Adoção três corações e uma família e A caixa amarela de Mikaela tagarela, uma história de amor e adoção (literatura infantil) lançamento em breve.
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Agatha Amorim