Tarifaço de 50% de Trump contra o Brasil entra em vigor nesta quarta


Entrou em vigor nesta quarta-feira (6) a tarifa de importação de 50% aplicada pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros. A medida impõe uma sobretaxa de 40% a uma alíquota de 10% que já vinha sendo empregada sobre os importados do País.
O decreto assinado na última quarta-feira (30), no entanto, prevê uma lista de exceções com cerca de 700 itens, entre eles, celulose, suco de laranja, petróleo, minério de ferro, metais preciosos, energia e produtos energéticos. Mas incluiu o café e a carne. A Embraer, fabricante de aviões, é uma das empresas que conseguiram reduzir a alíquota da sobretaxa.
Entre os produtos que mais causam impacto em valor exportado, os combustíveis abrangem 76 produtos, com US$ 8,5 bilhões exportados no ano passado. Em seguida, as aeronaves, abrangendo 22 produtos, que somaram mais de US$ 2 bilhões em vendas aos norte-americanos em 2024. Ferro e aço, com exportação de US$ 1,8 bilhão, e pastas de madeira (celulose), com US$ 1,7 bilhão, também são destaque.

Segundo levantamento da Secretaria de Comércio Exterior, a sobretaxa incidirá sobre 35,9% das exportações brasileiras para os EUA. Considerando dados de 2024, isso corresponderia a US$ 14,5 bilhões.

De acordo com o Fecomércio RJ, com a retirada de alguns produtos da lista do Tarifaço, a tarifa absoluta média aplicada caiu de 50% para algo próximo de 30%, representando a redução do impacto potencial sobre as exportações brasileiras, estimadas em mais de US$ 40 bilhões, para uma faixa entre US$ 20 e US$ 25 bilhões.

“A Fecomércio RJ defende a prioridade no aproveitamento da maior oferta interna para controlar preços domésticos e expandir mercados, e não adotar medidas paliativas que apenas elevam gastos com pressão inflacionária. O momento é estratégico para promover programas como o Made in Rio e reforçar a agenda exportadora com inteligência comercial, previsibilidade e confiabilidade institucional”, reforçou em nota.

O presidente norte-americano, Donald Trump, justificou a sua ordem executiva por uma “emergência nacional” em razão das políticas e ações “incomuns” e “extraordinárias” do governo brasileiro que, segundo o republicano, prejudicam empresas dos EUA, os direitos de liberdade de expressão dos cidadãos do País e a política externa e a economia, de modo geral.

Trump também cita como justificativa para a medida o que considera como “perseguição, intimidação, assédio, censura e processo politicamente motivado” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que é julgado por tentativa de golpe de Estado.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também é citado no texto como responsável por “ameaçar, perseguir e intimidar milhares de seus opositores políticos, proteger aliados corruptos e suprimir dissidências, frequentemente em coordenação com outros membros do STF”.

Os EUA também revogaram os vistos norte-americanos dos ministros Moraes, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes. Além disso, puniu Moraes com a Lei Magnitsky, que bloqueia as contas bancárias, restringe seu acesso ao sistema financeiro do País e trava o acesso a eventuais bens que o ministro tenha em solo norte-americano, além de proibir a sua entrada.
Lula X Trump

O tarifaço imposto pelos EUA a produtos brasileiros chega com o diálogo ainda travado entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump.

Ao participar de reunião nesta terça (5), do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chefe do Executivo disse que não ligaria para o republicano porque o mandatário norte-americano não quer conversar.

“Não vou ligar para o Trump para negociar nada (sobre o tarifaço), porque ele não quer”, discursou Lula, e afirmou em seguida: “Mas pode ficar certa, Marina (Silva, ministra do Meio Ambiente). Vou ligar para o Trump para convidá-lo para vir para a COP (a reunião global sobre mudanças climáticas, que desta vez vai acontecer em Belém); quero saber o que é que ele pensa da questão climática”.

Lula voltou a reclamar que o Trump poderia ter ligado antes para ele ou para o vice-presidente Geraldo Alckmin, já que haveria disposição de diálogo em relação à imposição de novas tarifas. O tarifaço foi divulgado por meio de carta publicada em rede social.

“O presidente americano não tinha direito de anunciar taxações como anunciou ao Brasil”, acrescentou.

As novas declarações vêm depois de acenos mútuos na última sexta-feira (1º). Em resposta a uma pergunta de jornalista da TV Globo, Trump disse que “ele (Lula) pode falar comigo quando quiser”. O petista reagiu horas depois.

Na rede social X, ele escreveu que sempre esteve aberto ao diálogo e, no momento, trabalha para dar resposta às medidas tarifárias anunciadas por Trump. “Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições.”

Plano de contingência

O governo federal afirma já ter um plano de contingência em mãos, que ainda não foi apresentado. De acordo com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, o Executivo ainda esperava por um recuo da Casa Branca ou que as taxas fossem adiadas.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou na última segunda-feira (4) que as medidas para auxiliar os setores afetados pelo tarifaço de Trump só seriam anunciadas a partir desta quarta.

Os detalhes até então são poucos, mas entre os destaques já sinalizados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o grupo de ações inclui a reformulação de programas de exportação e novas linhas de crédito a empresas.

Haddad também disse que terá uma reunião com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, ao longo desta semana. No entanto, o encontro marcado para a próxima quarta-feira (13).

Na terça-feira (5), Tebet negou que haja impacto fiscal imediato relevante, mas admitiu que as medidas podem gerar algum reflexo nas contas públicas a depender da extensão das ações.

Nesta quarta, uma comitiva da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos será recebida por Geraldo Alckmin, que vem coordenando a interlocução com os setores afetados. O secretário-executivo da entidade, Gilberto Perry, disse que os produtores não têm demanda interna para suportar a sobretaxação de 50%.

“E o produto, né? Claro, vocês estão atentos, especialmente na fruticultura, né? Mas o que vai fazer? Vai deixar a fruta apodrecer no pé? Porque a colheita pode até não ser compensadora para o empresário, o agricultor. Então, eventualmente o governo fazendo a compra dessa produção para distribuição, eventualmente na mesa de escolar ou outra finalidade, é um outro debate. Mas utilizar o recurso das compras públicas, a estratégia das compras públicas, para tentar mitigar seus efeitos”, afirmou.

Tarifas em série

O Brasil foi o primeiro de dezenas de parceiros dos Estados Unidos submetidos a aumentos nas tarifas. Em abril, Trump implementou um aumento mínimo universal de 10% nas tarifas, nível que continuará sendo pago pelos produtos de muitos países aliados, incluindo a maioria dos latino-americanos.

A partir de quinta-feira (7), vários produtos terão que pagar sobretaxas de até 41%. A maioria pagará uma taxa adicional de 15%, como Costa Rica, Bolívia, Equador e Venezuela. A Nicarágua terá uma tarifa de 18%.

O México tem um prazo de 90 dias para negociar os aumentos tarifários, embora já enfrente taxas adicionais de 25% para produtos que não são protegidos pelo Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC), que o país integra com Estados Unidos e Canadá.

Além disso, o republicano impôs sobretaxas específicas a alguns setores, como 50% ao aço, ao alumínio e ao cobre. E 25% para automóveis e autopeças que não estão incluídas no T-MEC.

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André Aquino

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