Direitos Humanos: O desafio das mulheres com familiares no sistema prisional

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Volta Redonda – Aproximar mulheres, segmentos sociais, universidade e redes de assistência para aprimorar a escuta qualificada e fortalecer a defesa de direitos. Esses foram objetivos de uma roda de conversa, no campus do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), em Volta Redonda, na última quarta-feira (3), que reuniu mulheres com familiares no sistema prisional, agentes da Pastoral Carcerária e representantes de diferentes segmentos ligados aos Direitos Humanos. O evento foi promovido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos (SMDH) em parceria com o Fórum Justiça. O defensor público João Helvécio, representando o Fórum Justiça, destacou que o encontro foi fundamental para fortalecer a interlocução entre as pessoas entidades envolvidas.
Pesquisadoras do Curso de Psicologia do IFRJ e integrantes do Projeto NAVE (Núcleo de Estudos da Violência) apresentaram levantamentos realizados junto às famílias, revelando dificuldades no acesso a informações jurídicas e de orientação para filhos e parentes em situação de prisão.
“Esse processo nos coloca diante de enormes desafios. Daí a importância de discutirmos possibilidades de políticas públicas para atender melhor às diferentes situações de conflito”, ressaltou a professora Vanessa Fonseca.
Vozes femininas, vozes de dor
No espaço de escuta, várias mulheres relataram, com coragem, as dores de ter filhos presos ou mortos, muitas vezes em condições precárias e sem acesso pleno a direitos. A ouvidora externa da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPERJ), Fabiana Silva, destacou a relevância da iniciativa, orientou sobre o papel da Defensoria e falou dos desafios do sistema de justiça.
Em seguida, a líder comunitária Monica Cunha, do Movimento Moleque Rio de Janeiro, compartilhou sua trajetória de dor e luta após a prisão e morte do filho em 2022. “A dor me fez juntar com outras mulheres. Meu filho já morreu; ele foi preso em 2022. De lá para cá, me juntei com outras mães que sofriam como eu, como vocês estão aqui”, relatou.
Monica também problematizou o uso do termo “bandido”. Para ela, jovens criminalizados prejudicam, em geral, apenas a si mesmos e suas famílias. “O verdadeiro bandido é aquele que prejudica toda a sociedade”. Ela ainda denunciou a seletividade penal e o racismo estrutural que atingem, sobretudo, jovens negros e periféricos. “A frase ‘estava envolvido’ é usada para justificar a violência do Estado. Isso legitima o racismo institucional e recai sempre sobre os mesmos corpos. Sigam se organizando”, disse.
A próxima etapa da iniciativa será realizada no início de outubro, na Secretaria Municipal de Direitos Humanos, em data a ser confirmada e divulgada pela instituição.
Agatha Amorim
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