1º Encontro de Quilombos do Médio Paraíba é realizado em Valença

Evento foi encerrado com uma emocionante apresentação da Folia de Reis – Foto: Divulgação

Valença – O 1º Encontro de Quilombos do Médio Paraíba, realizado no Centro Cultural Nação Mestiça, em Valença, foi um marco histórico para a valorização da cultura afro-brasileira e das comunidades quilombolas da região. Durante dois dias intensos, mestres, lideranças e autoridades se reuniram para discutir, celebrar e reivindicar a preservação e o fortalecimento das tradições culturais e sociais dos quilombos.

O evento, que contou com oficinas, apresentações culturais e rodas de conversa, foi um espaço de escuta e troca de saberes, onde as vozes dos fazedores de cultura ecoaram com força e emoção.

Falas que marcaram o Encontro

Mestre Tota – Diretor executivo do Comitê de Cultura do Vale do Café e responsável pelo Nação Mestiça:

“O encontro veio dar voz às comunidades que estão um pouco esquecidas, lembradas apenas em momentos de festa e apresentações culturais, mas que enfrentam diariamente desafios como acesso à saúde e educação. Foi fundamental termos autoridades políticas presentes, ouvindo as demandas e discutindo juntos os caminhos a serem percorridos. Os fomentos federais para a cultura têm ajudado muito os pequenos produtores culturais e mestres de cultura, mas ainda precisamos capacitar e dar mais visibilidade a esses fazedores de cultura.”

Mestre Cosme – Associação Cultural Sementes da África (Barra do Piraí):

Ele destacou a dificuldade de encontrar um espaço adequado para o Jongo em Barra do Piraí. “Hoje temos um escritório gentilmente cedido, mas precisamos de um espaço maior para ampliar nosso trabalho. O povo preto precisa ser lembrado além do 13 de maio e do 20 de novembro.”

Mestre Almir – Quilombo São José da Serra:

Representando o maior quilombo do estado do Rio de Janeiro, Mestre Almir fez um apelo direto ao secretário de cultura de Valença, Antônio Carlos, solicitando apoio para transporte. “Precisamos de ônibus para levar as crianças e o grupo de Jongo para apresentações. É essencial que o município olhe para o quilombo e nos ajude.”

Cida – Quilombo São José da Serra:

“Nosso quilombo está esquecido. Precisamos ser vistos e ouvidos.”

Mestre Edigar – Representante de Cachoeira do Arrozal:

Ele falou com preocupação sobre a dificuldade de transmitir a cultura do Jongo para as crianças e jovens. “Falta espaço para oficinas e precisamos garantir que o Jongo não pare.”

Mestre Marisco – Angra dos Reis:

Com emoção, ele lembrou do Mestre Toninho Canecão, do Quilombo São José da Serra. “A discussão vai muito além de dança e batuque. A luta dos pretos é muito maior. Sem as lutas dos nossos ancestrais, nós não seríamos nada.”

Momento Especial – A Lenda do Baobá

Durante a oficina de Jongo, Mestre Marisco e Mestre Cosme proporcionaram um momento inesquecível e profundamente simbólico. Eles abordaram o esquecimento das origens africanas e compartilharam a lenda do Baobá, a árvore sagrada que simboliza a conexão com a ancestralidade. O Baobá, conhecido como a “árvore da vida”, foi apresentado como um símbolo de resistência e memória, reforçando a importância de manter viva a conexão com as raízes africanas.

Mãe Lilian – Ialorixá:

Ela destacou a força e a importância do quilombo para a preservação da cultura afro-brasileira.

Mariana Ferraz – Presidente do Conselho de Cultura de Valença:

Ela reforçou a necessidade de um mapeamento e de uma rede estruturada entre os quilombos da região.

Mestre Kaka – Folia de Reis:

Ele expressou orgulho por participar do evento e falou sobre a dificuldade de transmitir a tradição das Folias de Reis para as novas gerações.

Eunice Sampaio – Mestre em Pedagogia:

Ela lembrou do Mestre Toninho Canecão e destacou a importância de ouvir os quilombos e compreender suas histórias.

Thaís Sobreira – Coletivo das Mulheres Negras:

Ela chamou atenção para a fragilidade das mães negras e a necessidade de maior apoio às mulheres quilombolas.

Mestre Fatinha – Presidente do Jongo do Estado do Rio de Janeiro:

Ela contou a história do Jongo de Pinheiral e destacou a importância do poder público estar próximo dos grupos quilombolas e de Jongo.

Antônio Carlos – Secretário de Cultura e Turismo de Valença:

Ele afirmou que “política pública vai muito além de leis de incentivo” e agradeceu a presença de Edu Nascimento, do Ministério da Cultura, pelo apoio à secretaria. E disse que o Gabinete dele está de portas abertas para todos e que todas as manifestações culturais terão voz. E ainda falou com o Mestre Almir que o Quilombo São José é uma prioridade e que vão estreitar os laços cada vez mais.

Edu Nascimento – Ministério da Cultura:

Ele destacou o empenho do governo federal em fortalecer as culturas quilombolas e reafirmou o compromisso com as políticas públicas voltadas para os povos tradicionais.

Depoimentos emocionantes

Suellen (Vitória Régia) – Aluna do Mestre Tota no Nação Mestiça:

“Essa experiência é muito rica e importante para todos os jovens pretos. Nossa cultura precisa ser valorizada, e a Nação Mestiça está aqui para isso, para levar a cultura ao povo!”

Encerramento e Oficinas

O domingo foi dedicado às oficinas de Capoeira, Jongo e ao batizado de alunos de Capoeira da Nação Mestiça. O evento foi encerrado com uma emocionante apresentação da Folia de Reis, que trouxe fé e tradição para o palco.

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Lucas Brandão

1º Encontro de Quilombos do Médio Paraíba é realizado em Valença